Trecho da rodovia entre João Monlevade e a divisa do Estado com o Espírito Santo é um dos maiores gargalos rodoviários; havia expectativa de ser contemplado com recursos do Acordo de Mariana

BR-262 foi desmembrada de uma concessão conjunta com a BR-381 ainda no governo Bolsonaro, depois de leilões fracassarem por falta de interessados | Crédito: Willian Dias / ALMG

A duplicação do trecho da BR-262 entre João Monlevade e a divisa do Estado com o Espírito Santo, um dos maiores gargalos rodoviários de Minas Gerais, ao que tudo indica, ainda não tem uma solução. A expectativa que parte dos recursos da repactuação do Acordo de Mariana fosse utilizada para as obras não foi concretizada em território mineiro.

O Acordo de Mariana destina R$ 4,3 bilhões a ações para investimentos em infraestrutura de mobilidade em Minas Gerais e no Espírito Santo. A pedido do governo capixaba, R$ 2,3 bilhões serão alocados em obras no trecho da rodovia federal entre a cidade de Viana e o Vale do Caxixe, ambos no estado litorâneo.

Os outros R$ 2 bilhões restantes serão para obras e serviços nas rodovias do lote Ouro Preto – Mariana, na região Central de Minas Gerais, com prioridade para a duplicação da BR-356, no trecho do entroncamento com a BR-040 até o entroncamento com a rodovia MG-129.

Em nota, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag-MG) declarou que a prioridade do governo estadual no Acordo de Mariana foi dada à BR-356. A justificativa é que a rodovia passa pelo epicentro da tragédia e a maioria dos municípios atingidos.

Anteriormente incluída em uma concessão conjunta com a BR-381, a BR-262 foi desmembrada desse projeto em 2022, ainda no governo Bolsonaro (PL), após os leilões fracassarem por falta de interessados. As empresas alegaram riscos elevados para realizar as intervenções previstas nos editais, principalmente na região serrana do Espírito Santo.

A solução encontrada foi realizar o leilão da concessão da BR-381 e duplicar a BR-262 com recursos do Acordo de Mariana, o que aconteceu para a parte capixaba da rodovia. O custo estimado da duplicação da BR-262 de Belo Horizonte a Vitória é de R$ 5 bilhões.

Outra possibilidade aventada pelo ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), era de uma concessão da rodovia. O outro lado mineiro da BR-262, foi concedido ao setor privado, no leilão da Rota do Zebu, vencido pelo consórcio Rotas do Brasil na semana passada.

A duplicação da parte capixaba da BR-262 pode gerar interesse do setor privado em uma possível concessão da parte mineira da rodovia, aponta o presidente da comissão técnica de transportes da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), Nelson Dantas. “Interessante é porque cria facilidade. Se cria facilidade, já tem boa parte desse trecho com potencial de aumentar o fluxo de tráfego e reduzindo o valor do pedágio, o que gera mais tráfego”, aponta.

Ministério afirma que realiza estudos

Questionado sobre o futuro do trecho mineiro, o Ministério dos Transportes informou, que, por meio da Infra S.A., está realizando estudos para avaliar a possibilidade de concessão da BR-101/259/262/381/BA/ES/MG.

Na rodovia entre Minas Gerais e o Espírito Santo, o estudo corresponde ao trecho que inicia no entroncamento com a BR-381/MG em João Monlevade (região Central) até o entroncamento com a BR-101/ES em Viana/ES, informa a Pasta, em nota. “O resultado deste estudo deve apresentar os investimentos necessários, bem como, estimar os fluxos de veículos, para avaliação do patamar tarifário e consequente viabilidade de concessão do trecho total ou de partes da rodovia.”

Além do estudo para concessão, segundo o Ministério, foi incluído no PAC a possibilidade de o Dnit elaborar os projetos para adequação de capacidade do trecho da BR-262/MG, de João Monlevade/MG até a Divisa ES-MG.

Setcemg acredita em solução semelhante à concessão da BR-381 em Minas Gerais

Dantas explica que a BR-262 é uma importante ligação leste-oeste do País e é um canal de exportação de grãos do Centro-Oeste brasileiro, que passa por Belo Horizonte e segue em direção aos portos do Espírito Santo. Além disso, a duplicação daria mais segurança, já que a rodovia também é uma rota turística. “O primeiro impacto seria a questão de segurança. Tem dois fluxos bem característicos: o de logística e o de passageiros, para turismo”, disse.

O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Adalcir Lopes, revela que o Ministério dos Transportes e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estudam a possibilidade de fazer na BR-262 algo semelhante com a concessão BR-381. “Tivemos reunião com o ministério, com Guilherme Sampaio (diretor da ANTT), e é o que vai ser feito. O governo tem sido célere nas soluções para Minas. Em dois anos, resolvemos um problema (BR-381) que não resolvia”, disse.

“Agora, a BR-262 está na lista. O governo não está esquecendo, está realmente contratando os estudos, segundo Guilherme Sampaio, para uma parceria público-privada. O governo faz uma parte e quem ganhar a concessão faz a outra parte, igual está na 381”, completa Lopes.

Diário do Comércio, 7 de novembro de 2024

Marco Aurélio Neves

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