Magna com o filho, João Carlos, que morreu ao ser atropelado por um caminhão, em 2016 Foto: Reprodução
No segundo semestre do ano passado, o menino João Carlos Dias, de 11 anos, estava na garupa da bicicleta de um colega na Estrada dos Bandeirantes, em Vargem Pequena, na Zona Oeste, quando foi atingido por um caminhão. O garoto, que não resistiu, é mais uma entre tantas vítimas fatais do violento trânsito do Rio. E os números assustam. No estado, as mortes por acidente subiram 30,81% entre janeiro e setembro deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.
O índice é o maior do Sudeste, superando percentualmente São Paulo e Minas Gerais, que têm frotas de veículos maiores. Os dados se baseiam nas indenizações pagas pela Seguradora Líder, que administra o seguro DPVAT.
O Rio está também entre os estados que apresentaram crescimento no pagamento de seguro por invalidez permanente (2,93%). Enquanto isso, São Paulo e Minas tiveram índices negativos: -25,83% e -12,39%, respectivamente.
— Os números podem ser ainda maiores, porque, além de a pessoa ter até três anos para pedir o seguro, tem muita gente sem noção de que tem direito a ele — aponta Fernando Diniz, presidente da ONG Trânsito Amigo.
Diniz virou um militante pela redução dos acidentes de trânsito após perder um filho, então com 20 anos, numa colisão em 2003. Para o presidente da Comissão de Legislação do Trânsito da OAB, Armando de Souza, as mortes e as lesões provocadas pelos acidentes só vão diminuir quando as autoridades passarem a investir mais em fiscalização e campanhas educativas.
— Não adianta fazer leis se não convencer a sociedade de que são boas para ela — diz.
Magna Dias, de 33 anos, mãe do pequeno João Carlos, que morreu, aos 11 anos, ao ser atropelado por um caminhão, no ano passado, dá seu depoimento:
“Acaba com nossa vida perder um filho do nada. De alguma forma a gente tenta sobreviver, buscando forças para se recuperar. Ainda sinto falta dele. Tento me distrair, mas vai ser um vazio eterno. O acidente não levou só meu filho, destruiu minha família. Meu casamento se desfez. O pai dele dizia que toda vez que olhava para mim se lembrava do filho. Ele não aguentou e foi embora de casa. Existe muita imprudência no trânsito. O motorista está impune. Sou evangélica e entreguei nas mãos de Deus. Se a justiça dos homens é falha, a divina não é. Não consigo ter um sentimento ruim em relação ao atropelador, que também é pai. Ele deve lembrar que tirou a vida de uma criança”.
Homens são as principais vítimas do trânsito
Faixa etária
A maior parte das indenizações pagas neste ano foi para homens (75%) e pessoas de 18 a 34 anos (49% do total).
Vítimas
A maioria é de motoristas (59%). Nos casos de acidentes fatais, eles representam 56%, e, com sequela permanente, 58%. Pedestres vêm em segundo lugar nos casos de morte (26%), de acidentes com invalidez permanente (28%) e entre aqueles que reivindicam o seguro para despesas médicas (17%).
Seguro
O DPVAT é destinado às vítimas de acidentes de trânsito, sejam pedestres, motoristas ou passageiros dos veículos. A cobertura abrange todo o território nacional. O prazo para reivindicar é de três anos.
Como requerer
O primeiro passo é consultar a lista de postos, onde é possível obter as orientações. Ela está disponível no site www.seguradoralider.com.br ou no telefone 0800 022 1204. As agências próprias dos Correios também recebem pedidos de indenização
Valores
A indenização por morte, paga a parentes, é de R$ 13.500. Por invalidez, varia conforme a lesão, podendo atingir o mesmo valor. Despesas médicas de até R$ 2.700 são reembolsáveis.
Apoio nos momentos difíceis
A dor de perder um ente querido é um vazio que nunca se preenche. Se for um filho, a lacuna é ainda maior. O trabalho dos profissionais do Núcleo de Apoio a Vítimas do Trânsito (Navi), que funciona na sede do Detran, no Centro do Rio, é ajudar os parentes a superar esse momento difícil.
— Damos o apoio emocional nesse momento para fazer com que o luto não imobilize essa pessoa e a ajude a levar a vida adiante — explica a psicóloga Dnilda Cortes, coordenadora de uma equipe formada por oito pessoas, sendo quatro estagiários.
No primeiro contato, é oferecido um trabalho de terapia de grupo. E, caso haja necessidade, o parente ou a vítima (no caso, o sobrevivente que ficou com sequela) recebe atendimento psicológico individual. Atualmente, 30 pessoas estão sendo assistidas pelo Navi.
— Não existe dor maior. Só sabe a dimensão quem passou por ela — desabafa Ieda Selma Lopes Silva, de 60 anos, que perdeu o filho, Renato, na época com 20 anos, num acidente na Ponte Rio-Niterói em 2007.
O rapaz era um dos caronas do veículo onde ele viajava com outros quatro amigos. Hoje, a mãe faz parte de um grupo de apoio que reúne parentes e vítimas de acidentes de trânsito.
Extra, 05 novembro 2017
TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO!
ABETRAN – George J Marques