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Perfil -Candidato a vereador em 2016 pelo PPS, Dionisio da Brahma não chegou a se eleger, mas foi nomeado para exercer uma função no governo municipal que parece ter sido feita sob medida. Sem formação na área de trânsito, Dionisio – que também é acadêmico de Direito e

gerente operacional, de compras e logística da Unividros – surpreendeu com sua sensatez perante os problemas e tem mostrado total capacidade para administrar as dificuldades. E olha que não são poucas. O departamento é pequeno e sem muitos recursos, em contrapartida, a demanda é gigantesca.

Priscila Loch
Tubarão

Notisul – Você assumiu o Departamento de Trânsito há sete meses. Como surgiu o convite e como pode ser resumido esse período?
Dionisio – Acredito que o convite surgiu pela minha conduta enquanto cidadão, pois sempre primei pela responsabilidade e transparência naquilo que faço e também pela participação do PPS nas eleições municipais. A vida pública é um desafio diferente, sempre trabalhei na área privada. É gratificante, um aprendizado, o desafio é grande. Mas sei da minha capacidade, que tenho condições de tentar buscar soluções. Tem alguns entraves que precisamos transpor no dia a dia. A parte burocrática muitas vezes atrapalha um pouco. Assumi um departamento com algumas deficiências em termos de equipe reduzida e de estrutura, mas no dia a dia viemos tentando aparelhar da melhor maneira possível para dar uma condição legal de trabalho para as pessoas que estão lá. Estou tendo o privilégio de trabalhar com duas pessoas guerreiras, que fazem a parte externa, comprometidas com o trabalho, que se preocupam com o que têm que fazer. Na parte administrativa, tem uma pessoa com 30 anos de casa que conhece tudo e mais um pouco, e tem me ensinado muita coisa. Estamos brigando de um jeito ou de outro para buscar as soluções. Para as pessoas entenderem um pouquinho a situação, para fazer faixa de pedestre temos que usar fita crepe para fazer marcação. Imagina o custo disso. Um rolo de fita custa cerca de R$ 4,00, dependendo da faixa, usam-se de três a quatro rolos. E é uma coisa simples fazer um gabarito para faixa de pedestres, para vaga de veículos. Já deveria ter, mas, como não tem, precisamos buscar a solução para isso. Todos sabem da situação financeira em que estava a prefeitura quando o prefeito Joares Ponticelli assumiu, e isso não foi empecilho. Ele sempre nos disse que, independente da situação, tínhamos que buscar a solução, e é isso que estamos fazendo. Sei que nesse ano não vai ser possível, mas já conversei com o secretário Alexandre Moraes e queremos montar um departamento de trânsito que tenha condições humanas e técnicas, para que possamos desenvolver o trabalho.

Notisul – Hoje, qual a estrutura do setor?
Dionisio – Dois funcionários fazem o serviço externo e um faz o serviço interno. Aí tem o departamento de trânsito, que trata de liberação de veículos, inserção de multas no sistema, onde trabalham três pessoas. Tem que montar um departamento com a estrutura mínima e imagino que esse mínimo para os trabalhos externos tem que ser quatro pessoas. Tem algumas situações no centro, por exemplo, que não é possível trabalhar durante o dia. As pessoas que estão trabalhando durante o dia não podem ser colocadas à noite. É um sonho meu, se der tudo certo, deixar esse departamento montado com um caminhão de pintura, para que não precisemos estar contando com firmas terceirizadas para fazer o trabalho.

Notisul – Este é um gasto tipo aluguel né…
Dionisio – É um dinheiro que não volta. O caminhão é um investimento. Gera economia. A última licitação que fizemos, para pinturas – isso que foi enxugado o que deu -, de 40 mil metros de pintura, para poder atender 90% da cidade, custou R$ 400 mil. Tem que buscar alternativas.

Notisul – E qual a periodicidade de pinturas necessária?
Dionisio – Uma média de três contratações a cada dois anos. A pintura dura em média oito meses. Onde o trânsito é mais intenso, some mais rápido. Na próxima licitação, faremos um teste com um material bem diferente do que usamos hoje, uma textura emborrachada. Pelas pesquisas que fizemos, a faixa de pedestres dura mais de um ano com esse material. Esperamos que melhore bastante. O custo é bem mais alto, mas no centro acho que merece esse tipo de material, porque tem movimento maior e vai durar mais tempo.

Notisul – Você tinha alguma familiaridade com o trânsito antes de ser nomeado?
Dionisio – Eu tinha, andava de carro (risos). O negócio é pesquisar sempre. Primo muito por fazer a coisa certa. Acontece muitas vezes das pessoas perguntarem se não tem como dar um jeitinho. A lei não tem como dar jeitinho. Não sou eu quem decide, é uma norma nacional. Tem um manual, não tem por que inventar. É só seguir que tu não vai se incomodar.

Notisul – Falando em incomodação, nesses meses que assunto mais te deixou de cabelos brancos?
Dionisio – Temos uma deficiência muito grande em relação aos semáforos mais antigos. Praticamente todos os dias têm problemas de semáforos que não funcionam. Já sugeriram de colocar o número do telefone de manutenção nos semáforos. Seria legal, se as pessoas tivessem responsabilidade. Se já ligam para os bombeiros para passar trotes, imagina o que vai ser com a pessoa que cuida dos semáforos, não vai dormir mais. O telefone da Guarda funciona, o 190 funciona, o meu funciona. As pessoas precisam ter um pouco mais de consciência naquilo que fazem no dia a dia para não envolver outras pessoas. Uma brincadeira pode até se transformar num problem.

Notisul – Existe alguma previsão de troca de semáforos? Sabemos que são equipamentos caros.
Dionisio – Bem caros, mas é o tipo de mal necessário, vamos ter que fazer. Estamos formatando uma próxima licitação. Tudo isso para melhorar o trânsito. Ainda depende de licitação, e isso leva um tempinho. O que ouvimos muito são reclamações de trânsito do tipo “melhora pra mim?”, o resto que se exploda. Vivemos numa sociedade em que temos que dividir espaço, respeitar os limites. Meu direito vai até onde começa o seu. Muita gente para em locais proibidos e diz que é rapidinho, mas esse rapidinho pode atrapalhar quem realmente precisa. É preciso um melhor senso.

Notisul – O nosso trânsito não é ruim como muitos definem, ruins são os motoristas que não respeitam sinalização, não cumprem as leis…
Dionisio – É bem isso. Falta muita consciência do motorista. Se ele seguir as regras, não vai ser multado, vai ganhar tempo. A partir do momento em que cada um respeitar a sinalização, tudo melhora. Muitos motoristas, quando saem de Tubarão, não fazem como aqui dentro, fora eles têm medo. Por que aqui tem que virar baderna? O trânsito é nosso, a cidade é nossa, por isso vamos melhorar, vamos nos conscientizar. Se cada um fizer um pouquinho, vai melhorar bastante. Consciência e respeito às leis de trânsito, não tem outro caminho.

Notisul – Falando em falta de respeito, apesar de ser proibido, muitos motoristas cruzam as avenidas Patrício Lima e Padre Geraldo Spettmann. O que vocês têm feito a respeito? Existe algum projeto para melhorar a sinalização, já que é nítido que muitos não sabem ler as placas?
Dionisio – A colocação de placas proibindo seguir em frente é uma sugestão válida, mas o Código de Trânsito não prevê duas placas. As placas hoje indicam que é sentido obrigatório virar à direta ou à esquerda. Numa conversa com o comandante Silvio Lisboa, da PM, decidimos fazer umas gravatas – plaquinhas escritas abaixo das placas – orientando que aquele sinal é de sentido obrigatório, para ver se as pessoas conseguem entender. Já que não entendem, vamos colocar uma informação a mais, pelo menos para as pessoas lerem, já que não conseguem interpretar o que está na placa. A intenção é colocar em todos os cruzamentos das duas avenidas. Vamos melhorar a sinalização, reacender o que tem hoje, para que entendam que tem limite de velocidade, 50 Km/h, e sentido obrigatório.

Notisul – Com a transferência do Complexo de Segurança Pública da Polícia Civil para a rua Altamiro Guimarães, assim como futuramente os serviços da Fundação de Saúde, o trânsito vai ficar bem complicado. O que vocês estão planejando?
Dionisio – Definido não tem nada ainda. Queremos sentir como vai ficar, até para criar uma rota de fuga. Vamos deixar acontecer para não fazermos algo e depois ter que voltar atrás.

Notisul – Você sempre bate na tecla de que é preferível esperar do que aplicar e depois voltar atrás.
Dionisio – Não adianta fazer e depois ver que não era o ideal. Na frente do complexo de polícia, tem a rua José Genovez, que pode ter o sentido mudado. Mas tem que se pensar onde vai desembocar.


Notisul – Existe a possibilidade de transformar em mão única a rua Altamiro Guimarães?
Dionisio – Se for necessário, sim. É uma via um pouco estreita para ser avenida, tem estacionamento dos dois lados. Proibir estacionamento em um dos lados também é uma possibilidade, por isso que pedimos para deixar a coisa acontecer primeiro, para ver como vai desenvolver o movimento, que vai ser maior, é óbvio. A delegada Vivian Selig deu uma entrevista outro dia dizendo que a antiga Ciretran, na margem esquerda, recebia um fluxo de sete a dez mil pessoas por mês. Imagina esse fluxo de pessoas indo para a Altamiro Guimarães. Não é só pedir a instalação de uma lombada, a pintura de uma faixa de pedestre. Tem que analisar bem antes para não criar armadilha pior ainda.

Notisul – Há planos de mudanças para a Pedro Zapelini?
Dionisio – Pretendemos mexer também. Estamos estudando, tudo é planejado, não adianta fazermos no afogadilho. Está praticamente certo que vamos tirar aquelas conversões à esquerda dos semáforos. Na situação que é hoje, tem que trabalhar o semáforo para que tenha uma entrada à esquerda e o pessoal que vem no sentido contrário vai ter que ficar mais tempo parado. Tira-se essa conversão à esquerda, faz o contorno ou entra uma via antes, o fluxo na avenida vai ficar livre, só para o cruzamento. Já está bem amadurecida a ideia. Na esquina do Estádio Anibal Costa, por exemplo, em vez de se entrar à esquerda no sentido Congonhas, iria até a rua Augusto Severo, entraria à direita, na Annes Gualberto à direita, pegaria a Rui Barbosa à direita. Temos consciência de que não vamos contentar todo mundo. O principal é que seja bom para a cidade com um todo.

Notisul – Como você avalia a falta do sistema de estacionamento rotativo?
Dionisio – Atrapalha muito. A hora que for reimplantado vai melhorar muito o trânsito. Também porque tem muita gente que hoje vem de carro para o centro que não vai vir mais a partir do momento em que tiver que pagar estacionamento. Esperamos que até o fim do ano esteja funcionando.

 

Notisul, setembro 2017

 

TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO!

ABETRAN – George J Marques