Presidente do Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO), Manoel Xavier Ferreira Filho, 53 anos, disse em entrevista ao Diário de Aparecida que pretende, este ano, intensificar as ações educativas. Estas incluem a preparação da criança para que seja uma cidadã consciente no trânsito até a formação do condutor, para que, ao receber a Carteira de Habilitação, tenha consciência do valor da vida e condições de enfrentar situações adversas. Sobre o programa Balada Responsável, Manoel informou que a meta até 2018 é reduzir o índice de mortes para 26 por 100 mil habitantes. Goiás registrou, em 2014, 32,4 óbitos por 100 mil habitantes. Formado em Administração pela Universidade Católica de Goiás (UCG), entrou no governo em 1999, durante o primeiro mandato do governador Marconi Perillo (PSDB), passou pelas secretarias de Saúde e Educação e presidiu a Agência Goiana de Administração e Negócios Públicos. Antes de assumir o Detran-GO, ele foi superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Quais são as metas para o ano de 2017?
Manoel Xavier Ferreira Filho – O Detran, assim como as demandas da sociedade, tem que ser dinâmico, adaptar-se às necessidades do cidadão e estar onde for mais conveniente para nosso usuário. Por isso, temos buscado agir em três eixos estruturais: inteligência, prevenção e repressão. Iniciamos um processo de modernização com investimentos em tecnologia da informação, planejamento e estatística. Com isso, esperamos reestruturar e inovar atendimentos e serviços. Vamos intensificar as ações educativas, que incluem desde a preparação da criança para que seja uma cidadã consciente no trânsito até a formação do condutor, para que, ao receber a CNH, ele não só tenha condições de enfrentar situações adversas, mas tenha consciência do valor da vida. Onde todas as ações educativas se mostrarem inócuas, entraremos com ações como a fiscalização e aplicações das sanções previstas em lei. Ninguém gosta de ser parado em uma blitz, de ser multado, muito menos de ter a CNH suspensa. O Detran também não gosta de rótulo de órgão repressivo, mas, em alguns casos, a fiscalização se faz necessária para resguardar a vida dos condutores e dos pedestres que respeitam as leis de trânsito e também à daqueles que, por um motivo ou outro, agiram com negligência em algum momento.
Que resultados importantes o senhor destaca em 2016?
O ano passado foi muito produtivo para o Detran. Tivemos vários avanços. Descentralizamos todo o atendimento. Hoje, só vai ao Detran quem mora ali perto, pois nas unidades Vapt Vupt estão disponíveis todos os serviços, inclusive transferência de pontuação e emplacamento de veículos. Na sede, os atendimentos que eram feitos em um local, separamos em três seções. Uma para pessoas jurídicas, que demandam mais tempo, pois, geralmente, chegam com muitos serviços para serem executados. Criamos o Atendimento Expresso para os usuários que buscam serviços de baixa complexidade, como atualização de endereço. A unidade padrão foi mantida para atender pessoa física. Com isso, ganhamos agilidade. Realizamos melhorias em 70 Ciretrans, que passaram a oferecer mais conforto e comodidade aos clientes. Ampliamos o leque de serviços online e disponibilizamos atendimento com hora marcada.
E quanto ao processo de modernização para a formação de novos condutores?
Intensificamos a fiscalização e implantamos mecanismos como a biometria em todas as etapas do processo de habilitação para nos certificarmos que os candidatos estão recebendo todas as aulas e todo o conteúdo previsto na legislação. Iniciamos a padronização das pistas de prova prática para uniformizar o grau de conhecimento dos condutores, evitando que eles busquem ‘facilidade’ em municípios vizinhos. Temos que ter em mente que o condutor deve ser bem preparado em qualquer cidade onde esteja, pois o trânsito vai exigir o conhecimento de todos. No quesito educação para o trânsito, também avançamos com a intensificação dos programas Goiás Sinalizado, que atendeu 72 municípios; Detranzinho, que atendeu 23 mil alunos; palestras nas escolas e campanhas representativas como Maio Amarelo, Férias, Acenda o Farol e outras.
Quais são os números de 2016 com relação às operações realizadas pelo Detran?
Antes de falar sobre os números, é preciso falar sobre o que motiva programas como o Balada Responsável. Goiás registrou, em 2014, 32,4 óbitos por 100 mil habitantes. A meta até 2018 é reduzir esse índice para 26 mortes por 100 mil habitantes. Temos caminhado nesse sentido graças às ações educativas e a programas como o Balada Responsável. É de conhecimento de todos que o álcool altera os reflexos e reduz o tempo de resposta do condutor e é uma das principais causas de acidentes com vítimas no País. O objetivo do programa é evitar que condutores dirijam após a ingestão de bebidas alcoólicas, contribuindo para reduzir os índices de fatalidades no trânsito. Para isso, ele é desenvolvido em duas frentes: educação e fiscalização. Todos os dias, equipes de educadores realizam atividades em locais de grande aglomeração de pessoas, propagando a mensagem ‘Se beber, não dirija’, tirando dúvidas e distribuindo material educativo. Esse braço educativo da Balada abordou 3.680.23 pessoas no ano passado. É um número expressivo. Mais da metade da população goiana. Já as blitze do programa abordaram 89.793 pessoas. Dessas, 5.702 estavam dirigindo após o efeito do álcool.
A modernização do atendimento ao usuário é a saída para acabar com as filas de espera para alguns serviços que
ainda recebem reclamação do contribuinte?
Felizmente não temos mais problemas com longas filas. Tivemos grandes avanços com a disponibilização de serviços online e a descentralização do atendimento. Pouco a pouco o cidadão goiano compreenderá que já estamos em um novo patamar. O segredo é não se acomodar, buscar inovar sempre, pois não há nada que não possa ser mudado ou melhorado.
Casos de embriaguez ao volante continuam subindo, apesar de leis mais rígidas e multas mais caras. Obviamente que pessoas mais ricas não são afetadas com os valores vultosos de multas, mas apenas os pobres. Como fazer para que esta parcela da população respeite as leis?
Com ações educativas e, quando elas não forem suficientes, ações repressivas. A multa deve ser a menor das preocupações de quem é pego dirigindo embriagado. A multa ficou mais pesada, mas o condutor dá um jeito e paga. Agora, esse motorista ou motociclista ficará 12 meses sem dirigir. Serão 365 dias que ele deixará de ir para o trabalho ou de levar o filho à escola em sua condução. Ao pegar o volante após a ingestão de álcool, ele poderá se envolver em acidente e até tirar uma vida. As implicações legais, a culpa, o transtorno, a vida… Essas sim devem ser as preocupações do condutor. Para isso, precisamos de conscientização e de apoio da sociedade para programas de fiscalização. Essa é uma situação que tem que ser trabalhada, pois todos reclamamos do trânsito, dos acidentes, dos condutores que cometem infração, mas ninguém gosta de ser fiscalizado, de ser multado.
O que o senhor considera como o maior desafio desta gestão à frente do Detran?
Os desafios são vários. O cidadão está cada vez mais antenado, exigente e com o tempo cada vez mais reduzido. Temos que nos adaptar a isso, prestar o melhor serviço, no menor tempo e com a máxima eficiência possível, sem deixar de lado toda a parte legalista e burocrática que a legislação nos impõe. Temos que dar um salto na qualidade da formação do condutor, preparando-o para enfrentar o trânsito caótico. São obstáculos que, com planejamento e trabalho, temos superado. Mas o mais essencial e complexo desafio é da conscientização e mudança de comportamento do cidadão no trânsito. As ações educativas buscam sensibilizar o pedestre, o ciclista, o motociclista e o motorista da importância de seu papel na construção de um trânsito seguro. É um trabalho árduo, de longo prazo, e que não depende só do Detran-GO ou de órgãos públicos. Faz-se necessário o engajamento de todos. Precisamos, enquanto sociedade, nos indignar com o número de mortos e sequelados no trânsito. Essa falta de respeito e de atenção à vida dificulta o combate à violência. (Por Charles Daniel)
Diário de Aparecida, janeiro 2017
TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO!
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