Parei o meu carro no limite da faixa de travessia de pedestres.

Naquele instante, começo a perceber as pessoas que atravessam à minha frente.

Uns, distraídos, com os fones aos ouvidos, embalados por uma música que não sei o que toca, mas que certamente não será uma das minhas preferidas, andam quase bailando, ao ritmo daquele som.

Ainda uns que, ao perceberem minha atitude de dar a preferência para a travessia, desaceleram os passos, entre risos e conversas, saboreando o direito de transitar diante dos veículos parados, fazendo caras de privilegiados, num universo em que todos competem por espaço, propositalmente vagarosos, sem se importarem com a espera dos carros, ali parados.

Outros, apressados em seus passos, atropelam o tempo, cegos em sua caminhada acelerada, sem ao menos perceber que estão atravessando uma rua.

Ouço o buzinar dos carros atrás de mim, impacientes pelo meu gesto de cidadania e obediência, às regras de trânsito. Aquele buzinaço me confunde, parece querer me dizer para acelerar, para avançar em meio àquelas pessoas que  atravessam a rua, naquele momento.

Vejo pessoas de todos os tipos, generosas e agradecidas, pela preferência que concedo a elas. Algumas, levantam os braços levemente, acenam com o dedo polegar, esboçando um sorriso discreto e, um olhar de aprovação. Logo atrás vem outras, lançando um olhar furioso em minha direção, como se fosse eu, um invasor em seu caminho.

Piso no acelerador, numa linguagem sonora que pede às pessoas para terem um pouco de colaboração, afinal estou ali há um bom tempo esperando pela travessia delas que, indiferentes, insistem em abusar de sua prioridade.

Hoje, é o seu dia, pedestre. Mas o seu dia, são todos os dias em que ocupa as ruas e avenidas de nossas cidades. De maneira desordenada, às vezes coordenada, de bom humor ou não, apressado ou vagaroso demais, educado ou, muitas vezes deseducado, confuso para entender que as relações no trânsito devem evoluir para a gentileza e, a mútua cooperação.

Mais do que um dia para se comemorar algo, o seu dia pedestre, serve de alerta para essa reflexão, a respeito do seu papel no trânsito. Sua atitude, tem uma grande importância para mudar o meio, em que trafega.

Enfim, após a passagem do último pedestre, acelero meu carro e, sigo adiante, até a próxima faixa de pedestres.