Visão Zero é um conceito de segurança viária originado na Suécia e que pode ser resumido na seguinte premissa: nenhuma vida perdida no trânsito é aceitável. A abordagem é baseada no fato de que pessoas cometem erros – e esses erros podem ser prevenidos a partir de medidas de segurança como alterações no desenho viário e redução dos limites de velocidade. Em outras palavras, sistemas de segurança viária devem ser desenvolvidos considerando as falhas humanas. O programa gerou resultados notáveis: desde que adotou a Visão Zero, a Suécia registra uma das mais baixas taxas de mortalidade no trânsito do mundo (apenas 3 em cada 100 mil habitantes).  Além disso, as fatalidades envolvendo pedestres caíram quase pela metade nos últimos cinco anos naquele país. 

A realidade encontrada na Suécia, infelizmente, não é a mesma vista em tantos outros países. No mundo todo, 1,25 milhão de pessoas morrem a cada ano em acidentes de trânsito e em torno de 50 milhões ficam gravemente feridas. Os acidentes são a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e, em muitos países, estima-se que consumam de 2% a 5% do PIB.
  
Em diversas partes do mundo, convive-se com a descrença em relação à possibilidade de replicar as práticas adotadas em países como a Suécia e obter o mesmo sucesso. Recentemente, porém, grupo de mais de 30 especialistas de 24 países publicou um estudo que comprova não só a eficácia, mas a viabilidade da abordagem sueca: a Visão Zero não é uma utopia, e é possível, sim, atingir a marca de nenhuma morte em acidentes de trânsito. Intitulada Zero Deaths and Serious Injuries – Leading a Paradigm Shift to a Safe System (em tradução livre, “Nenhuma morte ou ferimento grave – encaminhando a mudança para um sistema seguro”), a pesquisa apresenta a governos e administrações, empresas e pesquisadores algumas das melhores práticas de segurança viária no mundo e o ponto de partida para que tracem suas próprias estratégias para evitar acidentes e fatalidades no trânsito.
 
 
Organizado pelo Fórum Internacional de Transportes (ITF, na sigla em inglês), o trabalho foi vencedor da edição de 2017 do prêmio Road Safety Awards e chama atenção para os resultados positivos da adoção de uma abordagem segura para o sistema viário.
 
  • Na Suécia, nenhuma criança morre desde 2008 em acidentes envolvendo bicicletas.
  • Na Europa, 88 cidades com mais de 100 mil habitantes não registraram nenhuma morte no trânsito no período de um ano.
  • Outras 16, entre aquelas com mais de 50 mil habitantes, já atingiram a marca de cinco anos sem mortes no trânsito.

 

Um sistema seguro precisa considerar o fator humano

 

Conforme indicado pelo estudo, cerca de 30% dos acidentes graves são causados por comportamento arriscado ao volante – a maioria é resultado de erros de percepção das pessoas. E, em grande parte dos casos, nosso sistema viário, da maneira como ainda é estruturado em muitos países, contribui para que esses erros aconteçam.
 
Por exemplo: de maneira geral, é permitido por lei em diversas partes do mundo que um carro trafegue a 100 km/h, mesmo na chuva e a poucos metros do veículo em frente; sem considerar se os motoristas entendem os riscos que estão de fato correndo. Outro exemplo reside no fato de que o corpo humano possui limites biomecânicos e não foi feito para viajar a altas velocidades. Costumamos temer a altura naturalmente, mas não temos as mesmas precauções em relação às altas velocidades. Sem falar nas distrações a que qualquer pessoa está sujeita ao dirigir – música, celular tocando, outros passageiros, além do que acontece do lado de fora do veículo.
 
Pessoas cometem erros – e podem cometê-los a qualquer momento. Um sistema de segurança viária efetivo precisa levar isso em consideração. O conceito de Sistema Seguro da Visão Zero é baseado na premissa de que os acidentes de trânsito são previsíveis e possíveis de prevenir e de que é possível atingir o zero – nenhuma morte ou ferimento sério em acidentes. Para chegar lá, contudo, é necessária uma mudança de paradigma profunda na maneira como a questão da segurança viária é encarada nas cidades – e, consequentemente, na forma como são pensadas as estratégias e soluções. Em síntese, um Sistema Seguro fundamenta-se em quatro princípios:
 
  1. Pessoas cometem erros que podem levar a acidentes.
  2. O corpo humano tem uma capacidade limitada de resistência a colisões.
  3. A responsabilidade pelos acidentes deve ser dividida entre aqueles que planejam, constroem, gerenciam e usam tanto as vias quanto os veículos, e medidas preventivas devem ser tomadas após um acidente para prevenir que outros aconteçam em decorrência das mesmas falhas.
  4. Todos os componentes do sistema viário devem ser fortalecidos para que se seus efeitos se multipliquem; assim, se uma parte falhar, os usuários do sistema ainda estarão protegidos.
 
Ao planejar os diversos setores do sistema de transporte de forma que considerem as falhas humanas, é possível quebrar com um padrão obsoleto que reputa a responsabilidade pelos acidentes aos condutores e/ou às vítimas. A abordagem proposta pelo Sistema Seguro envolve uma ampla combinação de intervenções, incluindo reforço na fiscalização, desenho mais seguro das vias e do entorno, tecnologias veiculares mais avançadas e responsabilização pelos acidentes. Dito de outro modo, na concepção de um Sistema Seguro, as mortes em acidentes não são um preço inevitável a ser pago devido às altas taxas de motorização. Ao contrário: ao considerar qualquer morte como uma falha inaceitável no modo como o sistema viário é concebido, a abordagem propõe a adoção de medidas capazes de evitar essas mortes.
Fonte:http://thecityfixbrasil.com/2017/01/09/visao-zero-e-possivel-zerar-as-mortes-no-transito/
 

TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO!

 

gjms